Empreendedorismo

A história d`OLeopoldo, a primeira celebridade da internet jaraguaense

Max Pires
Escrito por Max Pires em 20 de março de 2019
A história d`OLeopoldo, a primeira celebridade da internet jaraguaense
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Em um mundo conectado, como o vivemos hoje, é fácil falar em digital influencers. Agora feche os olhos e retorne 19 anos no tempo, em plena virada do século, no simbólico ano 2000. A internet brasileira ainda era uma adolescente, visto que chegou em nosso país de forma restrita, apenas em outubro de 1988.

Apenas em 1991 surgiram os primeiros domínios “.br”, e só em 1994 a Embratel iniciou os primeiros testes do que viria a se tornar a internet comercial no Brasil. O primeiro burburinho sobre o tema ocorreu já em 1995, quando revistas começaram a dar capas sobre a curiosidade fazendo com que o tema chegasse até a novela Explode Coração, grande sucesso na época.

Em 1996 surgiram os primeiros portais, o Zaz que no futuro virou o Terra e o UOL; em 1997 surgiu o Zipmail, primeiro e-mail grátis do Brasil e em 1999 foi lançado o Mercado Livre. E a internet começou a se popularizar, com a distribuição de CDs de provedores com os famosos discadores.

Quem aí não sente saudades deste som?

Foi também em 1999 que Jaraguá do Sul teve sua primeira cobertura de um evento na internet.

O mundo não acabou e chegamos nos anos 2000!

Contei um pouco da história da internet no Brasil, para que fique mais fácil compreender qual a era a estrutura disponível na época e, principalmente, tentar imaginar qual era a estrutura em Jaraguá do Sul naquele período.

Em 2000, Jaraguá contava com apenas um provedor de acessos que era a Netuno. Nesta época surgiu também a primeira produtora web da cidade, a WEBWork que provavelmente foi a responsável por criar o primeiro site de muitas das empresas aqui da região.

Jaraguá havia acabado de ultrapassar a marca de 100 mil habitantes e, surpreendemente, era uma cidade relativamente conectada já nesta época.

Como meu sonho era trabalhar com um portal voltado para a juventude e eventos, havia muitos jovens que já estavam antenados nas novidades, principalmente por causa do ICQ (WhatsApp da época), que estava cada dia mais popular.

Eu estava desempregado na época, precisava trabalhar, mas nada me tirava a vontade de trabalhar com internet. Tudo que tinha naquela época era uma folha de papel com um desenho de um site que eu tinha feito – nos momentos de ócio de meu trabalho anterior.

Acredite, foi com este desenho que tudo começou

Com esta folha de papel na mão eu saí em busca de alguém que acreditasse em mim e comprasse minha ideia. E por incrível que pareça estas pessoas apareceram! O primeiro foi o Helio de Masi, dono da Netuno internet e sócio da WEBWork, que topou hospedar e criar o site para mim.

Depois foi a Heloisa Peters, proprietária da Loja.com (uma loja que merece uma história à parte), que comprou a ideia e mesmo antes do portal existir e se comprometeu a ser a primeira e principal patrocinadora do site.

Se estas duas pessoas não tivessem existido em minha vida, talvez eu nem estaria aqui contando esta história agora.

Com os dois “oks”, o trabalho estava apenas começando e aquela folha de papel precisava enfim se tornar um projeto de verdade.

Folha com parte do planejamento de conteúdos e sessões do futuro portal

Como todos os projetos que fiz na minha vida, pedi socorro para o Marcio Martins em busca de um nome para batizar o site. Entre uma dezena de opções de URLs, uma se destacou, lá estava ele: O Leopoldo. O nome tinha tudo pra se tornar o primeiro case viral da cidade, afinal, quem diabos é o Leopoldo?

Nesta fase conheci o Fernando Robl, que foi quem desenhou a marca do site e veio se tornar meu segundo sócio, comprando a parte que era do Helio.

Logomarca do portal
Registro retirado do Internet Archive

Para o lançamento do portal, eu fui atrás de uns apoiadores que topassem rachar o custo da impressão dos flyers que eu entregaria nas baladas quando fosse tirar fotos.

No e-mail no flyer o primeiro registro do nome Max Pires

O portal se tornou um sucesso instantâneo. O boca boca e o curioso nome fez com que todos tivessem vontade de acessar e entender o que era e quem era este Leopoldo que todo mundo estava falando.

Além das coberturas fotográficas, o portal tinha diversas reportagens, colunistas, agenda de eventos e a página Picante, onde rolava entrevista com jovens populares da cidade.

Todos estes conteúdos eram muito legais e únicos para época, mas nada se compara ao que se tornou o nosso mural de recados. Só que viveu nesta época pode explicar e entender a febre que aquilo se tornou.

Lembro que o mural chegava a ter mais acesso do que a página inicial do site. Isso acontecia porque o mural era a página inicial da maioria dos navegadores de quem acessava a internet em Jaraguá naquela época.

Leopoldo destaque na charge do jornal O Correio do Povo

Toda estrutura do site funcionava na casa do Fernando e lembro como se fosse ontem a trabalheira que dava para ir no Café Confusão ou Notre, tirar 12 fotos (que era a capacidade da câmera) e voltar para casa dele para baixar as fotos.

Eu sabia que quanto mais fotos tirasse, mais pessoas iriam acessar o site para ver. Lembre-se que, naquela época, não existia celulares com câmera, então o único registro daquela noite especial só existia no Leopoldo.

Outra estratégia utilizada para popularizar o portal era gerar debates no mural sobre diversos assuntos e no começo quando ainda não existia este costume. Eu mesmo que gerava o debate, comentando o mesmo tema com vários nomes diferentes. kkkk

Reportagem Jornal A Notícia

Tempos depois, o Fernando saiu da sociedade e por pouco o portal não fechou, desta vez o site estava no ar, mas eu continuava sem computador e sem internet.

Quem me salvou naquela época foi novamente o Marcio, que liberou o espaço da agência que tinha com o Sérgio e Carmem para que eu usasse depois da meia noite (obrigado aos 3 por isso).

Nesta fase o Leopoldo lucrava o suficiente para eu não morrer de fome (muito graças à Valdirene que me cobrava quase nada pra deixar eu almoçar com ela) e conseguir pagar o aluguel da sala da casa do Marcio (a parede do quarto era o guarda roupa kkkk).

Reportagem no jornal de Santa Catarina, na foto com o Fernando Robl que foi meu sócio no projeto e o Márcio Batista Martins sempre presente em todas as loucuras que eu me meto.

Neste período de pindaíba surgiu o Thiago Markiewicz, na época com seus 13/14 anos. O cara me adicionou no ICQ e começou a falar que adorava o site e que se eu desse uma oportunidade, ele trabalharia de graça pra mim. Foi contratado na hora!

Até hoje o Thiago é um dos meus melhores amigos e daria pra escrever um livro com todas as histórias que temos juntos. Ah, provavelmente ele nunca ganhou nem um real enquanto trabalhou no Leopoldo. Em minha defesa só posso dizer que ele sabia que eu também não ganhava.

Thiago ficou trabalhando comigo por muitos anos, passou pelo Leopoldo, chegou na Look Here (que merece outro capítulo) e só saiu quando conseguiu um estágio de direito na Cassuli.

Aviso sobre responsabilidade de uso do mural

Os problemas com a audiência

Com uma grande audiência vieram os problemas, como o mural era um espaço que permitia postagens anonimas, muita gente começou a utilizar o mesmo para fazer ofensas e ataques, o que era muito divertido no começo, passou a dividir espaço com os haters, que já naquela época achava que a internet é um lugar sem lei.

Eu e o Thiago passamos por algumas tretas tendo que apagar mensagens a qualquer hora dia.

Nesta época abriu na cidade um escritório do Portal Terra e lá fui eu bater na porta deles pra tentar levar o Leopoldo para dentro do maior portal do Brasil.

Fico pensando nos argumentos que eu devo ter utilizando, mostrando que meu site de Jaraguá do Sul faria a diferença no conteúdo deles.

O Leopoldo não foi para o Terra, mas o Terra me levou para dentro deles. Novamente a serendipidade que eu sempre falo, das coisas que acontecem pelo acaso. A menina do Terra era amiga do dono da Look Here (que estava no Terra) e que era um portal que produzia um conteúdo de certa forma similar ao que eu fazia no Leopoldo.

Não foi fácil “matar meu filho”, lembro de muita gente me chamando de traidor por me vender para um site com sede em Joinville. Mas eu tinha certeza que sozinho não conseguiria seguir em frente, e que a estrutura, marca e suporte que eu teria lá, fariam a diferença no longo prazo e desta forma, fui em busca de novos desafios para minha vida.

Mensagem informando a fusão do Leopoldo com a Revista Look Here

E assim o Leopoldo nasceu e se foi, mas pra sempre será lembrado com a primeira celebridade da internet de Jaraguá do Sul.

Foi uma fase que lembro com muito carinho, ainda hoje é surreal imaginar que tudo isso aconteceu.

Recentemente vi o domínio dando sopa e o registrei novamente, quem sabe uma hora o Leopoldo não volta.

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7 Replies to “A história d`OLeopoldo, a primeira celebridade da internet jaraguaense”

Hélio Nadal De Masi

Max, obrigado pela lembrança, você sempre um lutador.
Desejo a você sucesso sempre.
Forte abraço.

Jaque

Lembrei de tudo aqui Max!! Que nostalgia! Deixei muitas mensagens no mural!! ????????

Carlos Piloto

Bela história cara.. Parabéns, empreender é isso… Arregaçar as mangas e mandar balanço que agente acredita… Muito legal a história… Tem que fazer um livro delas… Abração… Piloto

Marcio

Havia tempos que queria escrever isso, mas escrevemos história, fizemos história. Até hoje, nos trabalhos de naming para que sou contratado, uso como referência de sucesso. E olha que tenho alguns nomes bons circulando no mercado, como Naxi (Internet) e Supino (Banana Brasil) mas O Leopoldo foi uma grande inspiração.

Lembro dos nomes que discutimos na época. Apresentei caverna, cogumelo e outros que não lembro (inclusive todos hoje registrados), mas nenhum se adequava à proposta. Quando chegou em O Leopoldo, defendi com o seguinte argumento: era um nome de adulto, e usá-lo em um site jovem ia chamar a atenção.

Apesar de não ser um produto lucrativo (na internet da época, tudo era potencialmente lucrativo no futuro daquele período) tive ali grandes experiências, na composição de parte do conteúdo. Entrevistei artistas nacionais e internacionais, como o Jamaicano Papa Winnie (we talked about Jah), Fernanda Takai e outras personalidades.

Escrevi artigos inacreditáveis para a época, que faziam os acessos explodir. Acessos explodindo na época da internet discada. Era realmente um fenômeno, isso é realmente história,

O público d’O Leopoldo era formado pelas pessoas mais ricas, as que podiam ter, na época, e funcionários de empresas.

Fizemos a primeira campanha animada de Jaraguá do Sul na Internet. Conseguimos fazer esgotar a venda de ingressos de A.Loja.Com, com uma câmera tosca e recursos de flash, Marcos Santini conseguiu fazer uma peça que despertou a atenção de todos, com a chamada que usei: Sua entrada vai se fashiom, sua presenva vai ser show. Camiseta convite A.Loja.Com. E no dia do Jaraguá Fashion Show, no Shopping, dezenas de pessoas apareceram com as camisetas.

O Mural do Leopoldo, que eu ajudava a moderar, observou o incrível fenômeno de grupos de amigos e amigas, sendo os princípais deles Senhoritas e A.M.I.G.A.S, formada por alunas de escolas particulares de Jaraguá do Sul.

Apesar de toda a nossa “falta de capital”, fizemos um produto de alto nível. Contamos com o gênio Kledir Barkemeier. Lembro-me que a Cláudia Hreczuck que fez a “picante”por um tempo, o Cláudio Hreczuck, que escrevia sobre carros pelo prazer de escrever sobre o assunto.

é uma lista de pessoas que colaboraram, se eu lembrar complemento.

Apesar do conteúdo de altíssimo nível, o trabalho do Max Pires e seu desejo de que ele acontecesse foi fundamental. A ideia dos flyers foi genial: ao receber um panfleto com o endereço, as pessoas saiam a procurar na Internet (que não tinha a quantidade de opções que tem hoje).

Também haviam os sorteios de produtos, oferecidos pela Ellen’s Cosméticos, que agitavam a galera.

Foi um trabalho incrível.

Se eu lembrar de mais coisas, postarei.

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Tarcita de Abreu Buratto

Bela História Max.
Admiro teu esforço ,Deus Te Abençoe !!!
Parabéns!!!