As facilidades de se empreender quando se tem privilégios

Nos últimos tempos, seja por causa da política ou mesmo recentemente com o caso da investidora Bettina, muito se fala sobre as conquistas ou sobre as facilidades de empreender quando se tem privilégios.

O assunto entrou na moda, gerou milhares de memes e “privilégio” se tornou a palavra do momento. Não tenho dúvidas que os privilégios facilitam as coisas, FACILITAM. Veja bem: sem dedicação e esforço, dificilmente algum negócio prospera.

Desde a adolescência, minha vida é um turbilhão de novidades, boas e ruins, simplesmente impostas pelo destino. Não haviam opções, apenas vivia e seguia em frente com as ferramentas que me eram oferecidas.

Dinheiro nunca foi algo disponível, network familiar também não. Cheguei em Jaraguá em 1999 apenas com uma mochila nas costas e o sonho de tentar a vida aqui no Sul. Mesmo assim, enveredei desde o primeiro momento para o universo do empreendedorismo com a vontade de fazer o meu próprio destino.

Sorte? Resiliência? Persistência? São vários valores que me trouxeram até aqui, mas se eu não fosse uma pessoa privilegiada, nada disso teria sido possível. E que privilégios eu tive nesta caminhada?

Durante toda minha vida tive amigos mais velhos e de extrema capacidade intelectual que me aceitaram junto deles e compartilharam seu conhecimento comigo. Tive uma família que, mesmo pequena e separada por milhares de quilômetros, nunca esteve de fato distante.

E tive ainda o maior privilégio de todos: um pai que sempre acreditou na minha capacidade, que me incentivou a seguir os caminhos que eu achasse correto e me ensinou a batalhar para construir meu próprio futuro.

Conheci gente com muito e gente com pouco e me surpreendi em ver que, para algumas pessoas, a única herança que receberam dos pais foi mesmo o dinheiro. Foi aí que eu aprendi que existem vários tipos de privilégios.

Em maior e menor intensidade, todo mundo tem algum tipo de privilégio, saber aproveitar as oportunidades que aparecem em nossa vida, as pessoas que cruzam nosso caminho e ser capaz de aprender e evoluir é o que no fim fará a diferença em sua vida. Não existe problema nenhum em conseguir empreender com ajuda financeira ou através de alguma influência, afinal, sem talento, sem vontade, e sem uma boa ideia, nada vai pra frente.

A maior herança de todas

Abaixo, compartilho o texto que recebi de presente de aniversário de 18 anos do meu pai.
Se você absorver toda sabedoria contida nessas linhas, verá que essas palavras têm mais valor do que qualquer dinheiro no mundo. Que sorte eu tive de ser tão privilegiado assim!

“Se…

Se puderes manter a serenidade quando quem
te cerca a perdeu e te culpa por isso;
Se ficares confiante quando todos de ti duvidam,
sendo porem tolerante para com sua desconfiança;
Se puderes esperar sem que a espera te fadigue,
e rodeado por falsidade não enveredares também pela mentira,
Ou sendo odiado não cederes ao ódio,
E contudo não pareceres demasiado bom ou sabichão;
Se puderes sonhar – sem fazer do sonho teu senhor;
Se puderes pensar – sem que pensar seja teu objeto,
Se puderes lidar com triunfo ou desastre;
E tratar esses dois impostores por igual;
Se suportares ver a verdade que disseste
Distorcida por patifes para enganar os tolos,
Ou ver por terra aquilo a que dedicaste a vida
E te inclinares para o reerguer com ferramentas já gastas;
Se fores capaz de juntar todos os teus ganhos
E arrisca-los numa só jogada, cara ou coroa,
E perdendo, recomeçar tudo denovo
Sem uma palavra sobre as tuas perdas;
Se puderes forçar teu coração, teus músculos e fibras
A resistir muito além dos limites
Quando já não resta em ti mais nada
Senão a vontade que lhes comanda: Resisti!
Se souberes falar com a turba sem abdicar da retidão
E no convívio dos reis não perderes a simplicidade,
Se nem adversários, nem amigos queridos te puderem magoar,
Se todos os homens contarem para ti, mas nenhum demasiado;
Se puderes preencher o minuto inexorável
Com sessenta segundos de corrida de fundo,
Tua será a Terra e tudo o que nela habita,
E – o que é mais – serás um Homem, meu filho!”
Fenisio Pires, Rio de Janeiro, 02/03/2000